Veronika tinha quase a certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio: liberdade, finalmente; esquecimento para sempre. Porém, no fundo do seu coração restava a dúvida: e se Deus existe? Milhares de anos de civilização faziam do suicídio um tabu, uma afronta a todos os códigos religiosos: o Homem luta para sobreviver, e não para se entregar. A raça humana deve procriar. A sociedade precisa de mão-de-obra. Um casal necessita de uma razão para continuar em união mesmo depois de o amor deixar de existir, e um país precisa de soldados, políticos e artistas. "Se Deus existe, entenderá que há um limite para a compreensão humana. Foi Ele quem criou esta confusão, onde há miséria, injustiça, ganância, solidão. A sua intenção deve ter sido óptima, mas os resultados são nulos; se Deus existe, Ele será generoso com as criaturas que desejaram ir embora mais cedo desta Terra." Que se danassem os tabus e superstições. A sua religiosa mãe dizia: Deus sabe o passado, o presente e o futuro. Neste caso, já a havia colocado neste mundo com plena consciência de que ela terminaria por se matar, e não iria ficar chocado com o seu gesto.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário