Sabes o que me ocorreu? Que não passas de alguém que não faz ideia do que diz. Mas o que é natural... Deves ser capaz de me resumir todos os livros de arte já escritos. De Miguel Ângelo, sabes imenso sobre ele... as suas obras, ideologias políticas, relações com o Papa, orientação sexual e tudo mais. Mas aposto que não sabes como cheira a Capela Sistina. Nunca lá estiveste a olhar para cima, para aquele tecto. Nunca o viste. Se te falasse de guerra eras capaz de me vir com Shakespeare? "Uma vez mais a disputa, queridos amigos..." Mas nunca estiveste numa. Nunca tiveste no colo a cabeça do teu maior amigo e viste-o respirar uma última vez pedindo-te ajuda com o olhar. Falo-te do amor e certamente me recitarás um soneto. Mas nunca olhaste para ninguém sentindo-te totalmente vulnerável, nunca conheces-te ninguém que te consolasse só com o olhar, e te fizesse sentir que Deus tinha criado um anjo só para ti para te arrancar das profundezas do Inferno. E não sabes o que é ser o anjo dessa pessoa, sentir um tal amor, estar-lhe de tal maneira ligado... Não sabes o que é sofrer uma perda, porque só sabe quem ama alguém mais do que a si próprio. Duvido que tenhas ousado amar assim tanto alguém. Olho para ti e não te vejo como inteligente ou confiante. Mas sim, alguém atrevido mas ao mesmo tempo a morrer de medo. Mas também um génio, isso ninguém nega. Ninguém jamais conseguirá compreender a complexidade que há dentro de ti. Mas lá por teres visto um quadro meu julgas conhecer-me e que podes dissecar a minha vida inteira. Achas que posso começar a imaginar o quanto dura foi a tua vida, o que sentes, quem tu és, lá por ter lido Oliver Twist? Achas que o livro te define?

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