- Primeiro, quero fazer-te uma pergunta. Quando algo te acontece, como determinas se é uma coisa boa ou má?
- Bem, na verdade nunca pensei nisso. Eu diria que uma coisa é boa quando gosto dela, quando faz com que me sinta bem ou me dá um sentimento de segurança. Por outro lado, diria que uma coisa é má se me causa dor ou sacrifica algo que eu quero.
- Então é bastante subjectivo?
- Acho que sim.
- E até que ponto confias na tua capacidade de discernir o que realmente é bom e o que é mau para ti?
- Para ser sincero, acho que tenho tendência para me sentir justificadamente irado quando alguém ameaça o que eu considero "bom", aquilo que eu acho que mereço. Mas não sei realmente se existe algum fundamento lógico para decidir o que é bom ou mau, a não ser o modo como algo ou alguém me afecta. Tudo parece muito centrado em mim e nos meus interesses, suponho. E o meu historial também não é dos melhores. Algumas coisas que, inicialmente, achava boas acabaram por se revelar terrivelmente destrutivas; e outras que eu achava más... bem, acabaram por se revelar...
- Então és tu quem determina o que é bom e o que é mau. Tornas-te o juiz. E, para tornar as coisas mais confusas, aquilo que defines como bom acaba por se alterar com o tempo e consoante as circunstâncias. E, para tornar as coisas piores, há biliões de seres humanos, cada qual determinando o que é bom e o que é mau. Assim, quando o teu bom e o teu mau colidem com os do teu vizinho, desencadeiam-se brigas, discussões e até guerras. E, não havendo uma realidade absoluta do bem, perdes qualquer base para avaliar. É apenas linguagem e pode-se perfeitamente trocar a palavra "bem" pela palavra "mal".
- Compreendo que isso pode ser um problema... E agora compreendo também que gastei a maior parte do meu tempo e da minha energia tentando adquirir o que achava que era bom, como a segurança financeira, a saúde, a reforma ou qualquer outra coisa. E despendi uma enorme quantidade de energia e preocupação a temer o que defini como mau. (...) Há algum modo de reparar isso?
- Tens de abdicar do teu direito de decidir o que é bom e mau...
- E poderia significar que...
- ... que de alguma forma o bem pode ser a presença do cancro ou a perda de rendimentos ou mesmo de uma vida.
- Pois é, mas diga isso à pessoa com cancro ou ao pai cuja filha morreu...

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