Diz a tirada que te dei tal e qual; mas sem hesitações, pois se a mastigas como alguns dos teus actores prefiro que seja o pregoeiro da cidade a declamar-me os versos. Não serres muito ar com as mãos. Nada de esbracejar; tudo comedidamente pois que até na torrente, na tempestade e, podemos dizê-lo, no próprio ciclone da paixão é possível a temperança que lhe dá suavidade. Cortar-se-me-ia a alma ouvir um latagão de cabeleira a esfarrapar uma paixão, pô-la em rodilhas e rebentar com os tímpanos da geral que, na sua maior parte, aliás mais não entende do que as fantochadas, pantomimas e chinfrins sem qualquer sentido. Quem me dera mandar chicotear tipos desses que exageram traga-mouros, Termagantes, trinca-fortes, fazendo-os mais Herodes de que próprio Herodes. (...) Mas não sejais também frio em demasia: deixa que teu bom senso te guie. Que o gesto sirva a palavra como esta ao gesto sirva a acção explique; com esta nota especial: Se violentas o penador da Natureza exagerando, infringes a finalidade do teatro que até hoje, desde o seu princípio, foi e é ser espelho da Natureza, mostrar a virtude tal como ela é e da infâmia dar o seu cariz exacto, dar à idade e às vidas o corpo, o tempo, a forma que mais lhe convém. Exageros ou expressão que chega tarde podem fazer rir o ignorante mas apenas ofende o gosto do conhecedor cuja crítica vale mais do que o aplauso duma sala cheia de burros.

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