Por mais que as várias centenas de milhares de pessoas concentradas num território pequeno se esforçassem por desfigurar a terra em que se apertavam, por mais que a cravassem de pedras para que nada crescesse nela, por mais que exterminassem a mínima erva que brotasse, por mais que a enchessem de fumo do carvão e do petróleo, por mais que cortassem as árvores e escorraçassem todos os animais e pássaros - a Primavera era a Primavera mesmo na cidade.
(...)
As pessoas, porém - as pessoas grandes, adultas - não deixavam de se enganar e de se magoar, a elas mesmas e aos outros. Achavam elas que o sagrado e importante não era a manhã primaveril nem a beleza do mundo de Deus concedida para o bem de todas as criaturas - beleza que predispunha à paz, à concórdia e ao amor - mas que o sagrado e importante era o que elas próprias tinham inventado para ganharem poder umas sobre as outras.
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